"Os ritos, então, juntamente com as mitologias que lhe dão origem, constituem o segundo útero, a matriz da gestação pós-natal do Homo sapiens placentário.
(...)
Na Índia, o objetivo é nascer no útero do mito, não permanecer nele, e aquele que consegue esse "segundo nascimento" é na verdade o "duplamente nascido", libertado dos instrumentos pedagógicos da sociedade, dos engodos e ameaças do mito, do mores local, das esperanças habituais de benefícios e recompensas. Ele é realmente "livre" (mukti), "liberado enquanto ainda vivo" (jivan mukti), aquele "além-do-homem" tranquilo que é o homem perfeito- embora, em nosso jardim de infância ele se mova como um ser de outra esfera.
A mesma idéia de "segundo nascimento", sem dúvida fundamental para o Cristianismo, é simbolizada pelo batismo. " A menos que nascido da água e do espírito, o homem não pode entrar no reino de Deus. Aquele que nasce da carne é carne; e o que nasce do Espírito é espírito." Não poderíamos pedir definição mais vívida da doutrina dos dois úteros: o útero do mamífero e o útero do homem perfeito.
Na Igreja cristã, contudo, houve uma tendência, historicamente bem-sucedida, de anatematizar as implicações óbvias dessa idéia, com o resultado de um obscurecimento geral do fato de que regeneração significa ir além, não permanecer dentro, dos confins da mitologia. Enquanto que no Oriente - na Índia, Tibete, China, Japão, Indochina e Indonésia - espera-se que todos cruzem a porta do sol e se apresentem diante dos deuses, no Ocidente- ou, pelo menos, na maior parte do desenvolvimento judaico-cristão-islâmico- Deus continua a ser o Pai e ninguém pode ir além Dele. Esse fato explica, talvez, a grande diferença entre a religiosidade varonil do Oriente e a infantil do Ocidente recente. Nas terras do "duplamente nascido" o homem é, no fim, superior aos deuses, ao passo que, no Ocidente, até os santos devem permanecer dentro da Igreja e o segundo nascimento é interpretado como um nascer dentro da Igreja, e não fora dela.
O resultado histórico foi o rompimento dessa bolsa marsupial particular no século XV"
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