quinta-feira, 30 de abril de 2009
Pietà
(Pietà, de Bellini)
Pietà
Minha miséria agora é completa. Algo sem nome
apoderou-se do meu ser. Imóvel,
como se fora pedra,
o cerne também de pedra.
Apenas uma coisa eu sei:
Cresceste-
......cresceste muito
até alcançar a grande dor
que meu coração não pode compreender.
Jazes, deitado obliquamente no meu colo
e então, então é impossível de novo
te gerar.
Rainer Maria Rilke
(trad: Dora. F. da Silva).
Este é um dos 13 poemas do livro "A vida de Maria", publicado pouco antes de iniciar sua primeira Elegia de Duíno, em um momento de crise criativa. São poemas pouco conhecidos, e não muito valorizados pelo próprio Rilke. Mas me agradam e a meu ver possuem trechos bastante rilkeanos, como este "cresceste...cresceste muito até alcançar a grande dor que meu coração não pode compreender." que me lembrou um trecho da quarta carta à Kappus: "Evite dar alimento ao drama sempre pendente entre pais e filhos, o qual gasta muita força destes e consome o amor daqueles; amor que, embora incompreensivo, age e aquece. Não lhes peça conselho e não conte com sua compreensão, mas acredite num amor que lhe é conservado como uma herança e fique certo de que há nesse amor uma força e uma bênção a que não se arrancará mesmo se for para muito longe."
ps. Essa tela é a primeira Pietà de Bellini. Há uma outra que prefiro, onde o Cristo se encontra em pé, é mais dramática. Mas tão dramática que roubaria a atenção do poema. :)
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