"Não podemos, de forma alguma, esperar duplicar a natureza – conseqüentemente, é melhor expressar os próprios sentimentos. Como poderia alguém pintar uma angústia real – lágrimas que brotam das profundezas da alma de uma pessoa, como aquelas da mulher que vi chorando no hospital por uma doença venérea, seus braços uma criança frágil, vulnerável, limitada. Ela tinha acabado de descobrir que sua criança recém-nascida estava condenada à morte. Sua face contorcida, seus lábios inchados, seu queixo inchado enrubescido. Seus olhos eram simples fendas das quais estreitos rios de lágrimas estavam descendo – e o seu nariz vermelho-púrpura.
Aquele rosto angustiado tinha que ser pintado da forma como eu o vi, contra as paredes verdes do hospital, e os olhos carentes de resposta e sofridos da criança, tinha que pintar exatamente como vi, olhando fixamente o corpo amarelo-pálido, minúsculo – tão branco quanto o lençol sobre o qual ela estava. Portanto, tive que ignorar uma série de outras coisas, tais como os efeitos da verdade sobre a luz, que é relativo. Largas áreas da pintura estavam como em um pôster – amplas superfícies de nada. Mas esperei fazer as melhores partes, as que pretendiam transportar a verdadeira mensagem da pintura da dor, algo ainda mais sublime.
E, então, o público inteiro riu da pintura, dizendo que ela era exageradamente imoral e eu estava, mais uma vez, destinado a ser desprezado e martirizado. Sabia que a acusação de imoralidade me causaria dor, embora tenha intencionado que este fosse um trabalho da mais alta moral. Sabia que seria rotulado como um criminoso comum."
Diários de Munch.
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