domingo, 2 de novembro de 2008


(imagem: Caspar David Friedrich, Monge no mar, 1809, óleo sobre tela, 110x172 cm)


"Quem for capaz de respirar na atmosfera das minhas obras sabe que se trata de um ar de altitude, de um ar forte. Há que ser feito para ele, de outro modo não será pequeno o perigo de resfriamento.
O gelo circunda-o; grande é a solidão- mas como repousam tranqüilas as coisas em meio da luz! Vede como o peito respira amplamente e como são insignificantes todas as criações humanas que sentimos debaixo de nós.
A filosofia, tal como eu, até hoje, a entendi e a vivi, consiste em viver voluntariamente no gelo e na alta montanha, em procurar tudo o que é estranho e problemático na existência, tudo aquilo que, até ao presente, foi anatematizado pela moral. Devido a uma longa experiência, que me foi dada por essa peregrinação através do interdito, aprendi a encarar os motivos pelos quais, até agora, se moralizou e se idealizou, de maneira muito diferente do que pode ser para desejar: a história oculta dos filósofos, a psicologia dos grandes nomes da filosofia apareceram-me à luz do dia. Quanta verdade suporta, quanta verdade ousa um espírito? Cada vez mais essa se tornou para mim a autêntica escala de aferição. O erro (a crença no ideal) não é cegueira, o erro é cobardia... Cada avanço, cada passo em frente no conhecimento resulta da coragem, da dureza contra si próprio, da limpeza ante si próprio... Eu não refuto os ideais, calço simplesmente luvas perante eles... Nitimur in vetiturn*: sob este signo triunfará um dia a minha filosofia, pois em princípio sempre se proibiu, até hoje, apenas a verdade."

Nietzsche (Ecce Homo)

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