domingo, 29 de março de 2009

Kundera e Rimbaud

"O mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sob ele, nos esmaga contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o peso do corpo masculino, O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais
próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira. Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes,"

Milan Kundera, em A Insustentável Leveza do Ser




"
Quanto à felicidade estabelecida, doméstica ou não...não, não posso. Sou muito dissipado, muito fraco. A vida floresce pelo trabalho, velha verdade: para mim a vida não é pesada o suficiente, ela voa e flutua longe, acima da ação, este querido eixo do mundo.
Como me torno velha solteirona, sem a coragem de amar a morte!
Se Deus me concedesse a calma celeste, aérea, a reza - como os antigos santos. - Os santos! são fortes! os anacoretas; artistas como não se fazem mais!
Farsa contínua! A minha inocência me faria chorar. A vida é a farsa a ser levada por todos."

Rimbaud, Uma Estação no Inferno

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