"Ela riu, com o cigarro na boca, a ponto de se contraírem os olhos tártaros. Reclinou-se ao forro de madeira apoiando as mãos no banquinho, com as pernas cruzadas, balouçava o pé calçado com um sapato preto de verniz.
- Quelle générosité! Oh là, là, vraiment, meu pobre pequeno, é exatamente assim que eu sempre imaginei un homme de génie!
- Deixa disso, Clawdia. Claro que por natureza não sou nenhum homme de génie, como não sou tampouco um homem de grande envergadura. Não, meu Deus! Mas o acaso- dize que foi o acaso- levou-me muito alto, até essas regiões geniais...
Numa palavra, talvez não saiba que existe uma coisa que se chama pedagogia alquimístico-hermética, a transubstanciação, rumo ao mais sublime, e por conseguinte uma ascensão, se bem me compreendes.
Mas é óbvio que a matéria suscetível de ser impelida e empurrada, por influências exteriores, em direção a uma esfera mais elevada, necessita para isso ter certas qualidades próprias.
E quanto às qualidades que eu possuía, sei muito bem que eram as seguintes:
desde muito cedo tempo estava familiarizado com a doença e com a morte, e já nos meus tempos de menino cometi o disparate de te pedir emprestado um lápis, tal como se deu naquela noite de Carnaval!
Mas o amor disparatado é genial, pois a morte - sabes?- é o princípio genial, a res bina, o lapis philosophorum, e é também o princípio pedagógico, uma vez que o amor a ela conduz ao amor à vida e ao homem. É realmente assim; descobri-o
no meu compartimento de sacada, e me sinto feliz de ter uma ocasião de te dizer isso. Há dois caminhos que conduzem à vida: um é o caminho ordinário, direto e honrado; o outro é mau, passa pela morte, e este é o caminho genial.
-És um filósofo abtruso- disse ela- Não pretendo compreender todos esses teus pensamentos confusos e alemães, mas eles soam humanos, e certamente és um bom rapaz."
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
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